Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

sábado, 5 de novembro de 2011

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 5

A PALAVRA IMUTÁVEL!

          Por Jorge Fernandes Isah



CAPÍTULO 1: ESCRITURAS SAGRADAS

8. O Antigo Testamento em hebraico (que era a língua vernácula do povo de Deus na Antigüidade),14 e o Novo Testamento em grego (que em sua época era a língua mais conhecida entre as nações), tendo sido diretamente inspirados por Deus e, pelo seu singular cuidado e providência, conservados puros no correr dos séculos, são, portanto, autênticos, de maneira que, em toda controvérsia de natureza religiosa, a Igreja deve apelar para eles como palavra final.15 Mas visto que essas línguas originais não são conhecidas de todo o povo de Deus – Que tem direito e interesse nas Escrituras, e que é ordenado a ler16 e examinar17 as Escrituras no temor de Deus – os Testamentos devem ser traduzidos para a língua de cada nação,18 a fim de que, permanecendo a Palavra no povo de Deus, abundantemente, todos adorem a Deus e maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras possam ter esperança.19[14- Romanos 3:2. 15- Isaías 8:20. 16- Atos 15:15. 17- João 5:39. 18- I Coríntios 14:6,9,11-12,24,28. 19- Colossenses 3:16.]

INTRODUÇÃO
Parece que tudo que se refere à Sagrada Escritura acaba por se envolver em alguma polêmica, certamente pelo seu caráter sobrenatural, e por dirigir-se ao homem natural, e muitos debates acontecem desnecessariamente. Mas não podemos nos esquecer de que Deus se utiliza até mesmo da nossa inconstância e fragilidade para que os seus santos propósitos se cumpram. Foi assim na formação do Cânon, tanto do Antigo como do Novo Testamentos, e ainda persiste quando o assunto é da Palavra de Deus. E não é diferente o ensino sobre esta importante seção do Capítulo 1 da C.F.B. Ela revela-nos algo de que já discutimos anteriormente, em outras aulas, dando ênfase especial na direta e efetiva inspiração divina na formação do Cânon, de forma que todos os seus autores estavam submetidos à vontade e ação de Deus ao escreverem os 66 livros que compõem a Bíblia. 
Em linhas gerais, o que temos aqui, como primeiro ponto, é o fato de que na Escritura não há componentes que não tenham sido inspirados, dirigidos, e não fossem provenientes da mente santa, perfeita e sábia de Deus. Tudo o que temos nela tem origem no próprio Deus, por isso ela é a sua palavra. E este é um ponto inegociável na fé cristã [se é que há algum ponto que possa ser considerado negociável]. 

PRESERVAÇÃO DO TEXTO SAGRADO
A C.F.B. prossegue afirmando que Deus, "pelo seu singular cuidado e providência", ou seja, por sua ação direta e pessoal, conservou-a pura e autêntica no decorrer dos séculos. Este é um princípio fundamental e que também já foi exposto preliminarmente, o de que Deus preservou a sua palavra de forma que as gerações futuras, até o fim dos tempos, terá acesso à sua palavra infalível, inerrante e inspirada. Todos os homens, em todos os tempos, puderam e poderão se beneficiar do texto sagrado, incorruptível, não adulterado, assim com o Senhor o transmitiu aos seus servos que o redigiram; assim como Deus o transmitiu nos primórdios ao seu povo; nos primórdios da Igreja, para que sejamos, hoje, guiados no conhecimento e entendimento de todas as maravilhas que nos foram dadas conhecer por sua vontade.
Como já dissemos também, muitos críticos questionaram a inspiração divina da Escritura, como o fez Marcião, no séc. II. Ao ponto de alterarem e mudarem o texto, numa tentativa de eliminar o que consideravam não inspirado, e, assim, anularem a palavra de Deus. Mas com qual autoridade se arvoraram a realizar esse absurdo, além do foro íntimo e pessoal? Em outras palavras, quero dizer que o único motivo foram os seus pecados a motivarem-nos à rebeldia contra Deus.
O problema não está na doutrina da preservação da palavra, mas naqueles que a querem confirmada por seus métodos pessoais ou gerais, mas que têm origem no próprio homem, de forma que é ele a autoridade capaz de validá-la ou não. E sabemos que muitas coisas que passam pelo crivo humano certamente não são reconhecidas por Deus, pois têm claramente o objetivo de se insurgirem contra ele, em mais um motim ainda que motivado por um pretenso rigor e zelo com a verdade. Ora, a Escritura é pródiga em nos alertar: "Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso" [Rm 3.3-4]. De forma que a estupidez e malignidade de uns invalidaria o sábio propósito divino? De manter intacta e inalterada a sua palavra para todas as gerações? Se houve Marcião e muitos como ele que adulteraram a palavra a fim de satisfazerem aos seus próprios intentos e aos do seu mestre, satanás, em que isso deporia contra a Escritura preservada divinamente? Ou o diabo não tem também interesses na Escritura? É claro que tem! Por isso, durante séculos, nenhum livro em toda a história foi tão examinado, testado, e submetido às mais intensas provas a fim de se estabelecer a sua autenticidade. E, igualmente, nenhum livro tem provas tão contundentes da sua autenticidade como a Bíblia, ao ponto de os críticos mais ferrenhos reconhecerem-na [os que têm honestidade intelectual]. 
Mas a questão é: o que torna a discussão da preservação da Escritura possível? 

TEXTO MAJORITÁRIO E A ALTA CRÍTICA 
Primeiro, entre os séc. I e III, muitos textos surgiram alegando para si a chancela de palavra de Deus, porém não havia outro objetivo a não ser o de confundir e enganar a Igreja. O grande volume de apócrifos [muitos tão descaradamente falsos e inverossímeis que apenas as mentes indecorosas consideravam verdadeiros] e de cópias mal-feitas e descuidadas [algumas não intencionais, enquanto outras intencionais] coexistiram paralelamente à transmissão fiel da palavra, as que a Igreja utilizava e distribuía livremente entre os irmãos, em detrimento daquelas que eram rejeitadas e ficaram guardadas até suas descobertas, quase 18 séculos depois.
Vejam bem, haviam cópias fiéis dos Evangelhos e das Cartas Paulinas e Universais que eram lidas nas igrejas como a voz do próprio Deus. Eles são o que chamamos hoje de Texto Majoritário[1], consistindo do Texto Massorético do Antigo Testamento. e o Textus Receptus do Novo Testamento. Mas também haviam os textos corrompidos, sejam apócrifos ou cópias que circulavam também, contudo eram rejeitados pela Igreja Primitiva como não inspirados. Com isso, não estou a dizer que todos os apócrifos eram heréticos e tendenciosamente malignos, pois haviam epístolas de bispos e pastores que eram lidas nas congregações pelo seu caráter nitidamente cristão e espiritual, e que se baseavam na tradição de Cristo e dos apóstolos, mas que não eram inspirados diretamente por Deus, ainda que não possuíssem erros doutrinários. Como exemplo, podemos citar a I e II Epístolas de Clemente.
Desta forma, o Espírito Santo encarregou-se de, com o decorrer dos tempos, levar ao desaparecimento as cópias defeituosas [que não eram utilizadas pela igreja], que cairam no esquecimento da Igreja, diante do volume predominante do texto fielmente preservado [Majoritário]. 
Então, o fato de haver cópias fiéis da palavra transmitida por Deus e cópias corrompidas dessa transmissão, suscitou e ainda suscita este debate, mas somente porque alguns homens consideraram estas mais próximas dos autógrafos ou originais pelo critério de tempo, e não de sua aplicabilidade. 
Segundo, ela não seria levantada se não houvesse o interesse da crítica em questionar aquilo que foi estabelecido por Deus como verdadeiro e fiel. O homem, em sua constante sublevação à ordem divina, colocou-se na condição de "juiz" do que pode ser verdadeiro ou não e, ao apelar para a metodologia aparentemente superior do academicismo teológico, o Texto Majoritário foi progressivamente abandonado em favor do Texto Eclético ou Crítico[2], de forma que, aquilo que era individualizado no passado [vide Marcião e Mani] tornou-se corrente entre a cristandade, num estado de soberba e ostentação intelectual. 
A preservação da Escritura decorre da ação direta de Deus, a sua providência, utilizando-se dos meios humanos e dos próprios homens para manter intacta a sua palavra, através de homens que a "copiaram com reverência e fidelidade e depois a imprimiram com igual cuidado, a fim de que o texto original continuasse sempre disponível, em todas as épocas"[3]. Ao passo que as cópias corruptas, motivadas intencionalmente ou não, mas sempre contendo e perpetuando inúmeros erros e discrepâncias, estavam esquecidas e abandonadas pela igreja, até que foram despertadas do limbo para, atualmente, serem testificadas pela erudição cristã com a alcunha de serem "os melhores textos" do hebraico e do grego. E isso tem a intensão de retirar do texto bíblico o seu caráter absoluto, como a fidedigna palavra de Deus, de sorte que a terminologia "os melhores textos" traz subliminarmente um sinal, o de que a Bíblia não é um livro sobrenaturalmente preservado, o que consequentemente torna-o em um livro não inspirado divinamente, e dando-lhe a áurea de humanamente falível como tudo o mais produzido pelo homem. E isso tem sérias implicações quanto à doutrina e mensagem tradicionalmente proclamada pelos cristãos, afetando diretamente a fé e a confiança na Escritura, ao ponto em que um grande número de críticos já desistiram definitivamente de encontrar o texto original do Novo Testamento. 
Com isso, cristaliza-se o grave erro de se trazer para a Escritura um sentido que Deus não lhe deu, ao se interessar apenas pelo "sentido" que o texto bíblico possa transmitir [equivalência dinâmica], de forma que as palavras usadas originalmente por Deus e reveladas aos autores humanos não têm importância. É um terrível engano, e um perigo muito grande, pois se havia algo que os copistas se preocupavam era com a exatidão de cada frase, palavra e letra de forma que o texto original fosse fielmente transcrito [equivalência formal]. Para isso, eles dispunham de vários métodos para conferir se aquela cópia era realmente fiel ao texto original ou não [por exemplo, se contavam as sílabas e letras de cada frase para certificar-se de que o número delas não tinha sido alterado na cópia]. 
Fica a pergunta: qual o sentido pode se obter de um texto que tem tantas variantes textuais? É-se possível ter um sentido uniforme em meio à diversidade e profusão de erros textuais? 

CONCLUSÃO 
1) Assim, todas as dúvidas, contradições e discrepâncias que porventura surja na Igreja devem ser dirimidas exclusivamente pelo exame da Escritura, a qual é a palavra final e única regra em todas as questões doutrinárias/teológicas e eclesiásticas.
2) A Bíblia foi preservada intacta no decorrer dos séculos pelo poder e vontade de Deus, assim como ele mesmo é o seu autor, também é aquele que zela e guarda eternamente a sua santa palavra.
3) É possível dizer que há um texto que foi preservado por Deus? Sim. E esse texto é o Majoritário através do qual a Igreja Primitiva era edificada, santificada e crescia no conhecimento divino, e que também foram utilizados pelos reformadores, como Wycliff, Lutero e Calvino. E a nossa segurança está, especialmente, na forma como Deus o preservou, mantendo a unidade doutrinária da sua mensagem, de forma que não restam dúvidas quanto à sua fidelidade aos autógrafos ou originais. 
4) Felizmente, o mesmo não pode ser dito do Texto da Alta Crítica que além de divergir entre si mesmo[4] [lembre-se, num número reduzidíssimo de cópias em relação ao Texto Majoritário, algo em torno de 5% das cópias existentes, no total de aproximadamente 5.000], historicamente não foi utilizado pela Igreja, não tendo, portanto, a sua autenticação. 
5) O que nos deixa o seguinte questionamento: não estaria ligada à constante apostasia e o declínio da fé bíblica na igreja atual o fato de se propagar, divulgar e adotar como forma superior e sofisticada o Texto da Alta Crítica sem maior avaliação, baseado exclusivamente na autoridade dos eruditos? Não haveria uma clara inversão de valores em que os homens se sobrepõem e sobrepujam o que Deus estabeleceu no decorrer da história? 

Na próxima aula, falaremos de outro assunto ligado a este tópico, as traduções.

Notas: [1] Texto Majoritário - pertencente ao período não-crítico, é formado pela padronização encontrada na grande maioria dos manuscritos utilizados pela Igreja Primitiva e Medieval, cujas diferenças entre si são mínimas, e nenhuma delas apresenta contradição doutrinal. É também chamado de texto bizantino, sírio, tradicional, e eclesiático.
[2] Texto crítico - caracteriza-se por um afastamento do Texto Majoritário, e pelo aparecimento de um texto eclético, com base em um número reduzido de manuscritos [cópias], que discordam bastante entre si, e ainda mais da maioria esmagadora das cópias ou manuscritos pertencentes ao Texto Majoritário. O critério para a sua "autenticação" é a sua antiguidade, ainda que não representem 5% de todos os manuscritos existentes. 
[3] Sola Scrptura - A Doutrina Reformada das Escrituras, Paulo Anglada, Ed. Os Puritanos, pag. 103. 
[4] Somente nos Evangelhos, os Códices Sináitico e Vaticano, contêm mais de 3.000 erros, sendo que mais da metade deles deixam o texto sem sentido. 
[5] Resumo da aula na E.B.D em 23/10/2011.

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